Seguidores

domingo, 19 de outubro de 2014

O algoz de pássaros...


Pássaros presos, este era o fascínio de um menino...
Prendê-los e esquecê-los; pouco importava o destino!
Queria colecioná-los e assim os tinha de várias cores.
Gaiolas esturricadas deles; pouco importavam as dores!

Se estavam longe, usava o estilingue com precisão...
Num dia inteiro eram dezenas; de cortar o coração!
Vivia maquinando como preparar o melhor alçapão
Quando presos, às vezes os alimentava, outras não...

O tempo foi passando e o menino perverso cresceu...
Rosto e corpo de homem; o coração não enterneceu!
Já não utilizava mais o estilingue e sim uma carabina...
Trinta ou cem num dia; pouco importava a triste sina!

Morava numa cidadezinha do interior; num ninho da dor...
Espírito impregnado de ódio; prazer na morte do amor!
Os olhos escolhiam no céu algo que pudesse derrubar
Passou a vendê-los; um tostão para poder se sustentar!

Todo dia era dia de caça; perto ou longe ele ia buscar...
Certa vez foi bem distante; algo novo queria encontrar!
Descobriu um pássaro que nunca havia visto na vida...
Ficou entusiasmado; queria alcançá-lo e fez a corrida!


Caiu bruscamente; despencou numa complicação...
Um poço artesiano; um galho foi a única salvação!
Ficou por horas gritando; alguém haveria de ouvir...
Fome e frio; tinha que segurar e não podia dormir!

As mãos estavam doloridas; ele lutava pela vida...
A toda hora o medo do galho ruir; não queria esvair!
Começou a lembrar dos pássaros que havia prendido...
Das vezes que ria quando matava todo aquele colorido!

A noite chegou; o desespero aumentou e ele chorou...
O remorso sacudia a mente; não sabia rezar, mas rezou!
De manhã ouviu o canto dos pássaros saudando o dia...
Na circunstância o preso era ele; até parecia uma ironia!


No quarto dia uma luz raiou; alguém jogou uma corda...
Ele agarrou com muita força e foi puxado para a borda!
Olhou em volta e não havia ninguém; quem o salvou?
E o poço fundo havia desaparecido! Será que sonhou?

Milhares de pássaros ainda cantavam; voavam e festejam...
O estardalhaço era ensurdecedor; para ele um punhal de dor!
Avistou um abismo, queria fugir do canto que um dia matou...
Foi até ele, abriu os braços; viu o fim de si mesmo, e voou!

Janete Sales Dany
Todos os direitos reservados
 T4904186


Poesia Registrada na Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro
No Livro: 
"ACIMA DE NÓS RELUZ A VERDADE" E OUTRAS
Página 04
Registro: 652761

Licença Creative Commons
O trabalho O algoz de pássaros de Janete Sales Dany está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.


 

2 comentários:

  1. Divina inspiração. Sem palavras. Parabéns! Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite querida Edith Lobato,
      Obrigada pela linda presença...
      Fico feliz que tenha gostado!
      Volte sempre
      Uma semana de paz
      Mil beijos no coração

      Excluir