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Conheci um homem que todas as manhãs subia por uma rua. Quando estava quase anoitecendo, ele descia a mesma... Depois de anos vendo tal fato, estranhei quando ele não apareceu mais.
Sempre, ao amanhecer, quando eu olhava aquela rua, a sua lembrança surgia em minha mente. O que teria acontecido para ele nunca mais voltar?
Certo dia, encontrei um moço que muitas vezes o acompanhava, na subida ou na descida, então questionei o tal desaparecimento. E ele me respondeu:
–É um Cigano, está sempre caminhando... Às vezes se acomoda, mas não por muito tempo. Tem o hábito de conquistar novos horizontes. Esta rua é apenas um pedacinho do caminho que ele andava por um dia inteiro. A impressão é que pretendia atravessar o tempo, ir ao encontro das estrelas...
Hoje não sou capaz de lhe assegurar sobre o paradeiro dele; pode estar ao norte ou ao sul; pode estar na noite ou no dia, já que um Cigano percorre o mundo
inteiro...
Dependendo do lugar em que esteja, pode estar vendo as estrelas ou pode estar sendo iluminado pelo sol; pode estar fitando o amanhecer ou pode ser que esteja
apreciando o arrebol.
Com certeza, deve estar subindo muitas ruas que não podemos ver e descendo por
várias, quando vem chegando o anoitecer...
Nunca mais eu o vi, e a minha vida seguiu em frente...
A sombra da recordação sempre me trouxe a mesma visão: o Cigano
subindo, o Cigano descendo... parece que ele esculpiu na rua a própria
imagem...
Subia e descia, só que, antes, eu não sabia que era um Cigano e estava
só de passagem!
(Janete Francisco Sales Yoshinaga)
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