Há muito
tempo atrás...
Num vilarejo
acontecia uma situação diferente...
As pessoas
dali estavam imaginando um cenário estranho.
Uma senhora
que aparecia do nada, uma visita permanente.
Uma hora
estava de cabelo vermelho, noutra, castanho!
Passava
lentamente, causando pânico naquela gente.
Uns diziam
que ela era uma bruxa, outros, que era o tinhoso.
O apelido de
assombração, quando surgia num dia chuvoso!
O vestido,
às vezes, muito longo, varria as ruas daquele lugar...
Noutras
vezes acontecia de aparecer quase nua...
Pele desenhada
e aveludada a se mostrar.
Ela tinha um
colorido vibrante, era feia, bonita e radiante...
Todos viam
coisas infames, e a olhavam de modo inconstante.
Só por isto
era chamada de louca, fêmea errante!
Cada dia ela
representava uma ameaça, pavor na praça!
Nenhum deles
dirigiu uma palavra sequer para aquele ser.
Diziam que
era perigoso, sem ao menos a conhecer...
As conversas
eram assim:
— Cuidado, ela vem chegando e quer o
nosso fim.
— Não olhem para ela, já que trás no
ser, o que é ruim.
— É uma bruxa e pode levar nossas
crianças.
— Hoje ela veio penteada e vai nos
enforcar com as tranças.
— Não cheguem perto, pois se ela tocar
em um de nós será mortal!
— Ela chegou e caíra sobre nossa gente
uma desgraça, ela é infernal.
— Crianças corram, pois vem chegando
uma bruxa maldosa...
— Hoje, ela disfarça a maldade, se
vestiu de cor de rosa!
— Perigosa, esconde a ruindade, alma
misteriosa...
— Vamos rezar para que ela vá embora
para sempre.
— Esta mulher das trevas quer arruinar
a gente.
— Por que ela abusa de tanta sedução e
tem todo este colorido?
— Veja dentro dos olhos dela, há um
mundo desconhecido...
— Cuidado ela vai roubar o teu marido!
Depois de
tanta lenda a mulher significava o pior que existia.
Quando ela
chegava a criançada fugia, a noite
arrasava o dia.
Toda
população do lugar se afugentava, se escondia...
Aquele temor
foi crescendo e eles planejaram uma agressão.
Matariam
aquele ser que causava tanta aflição.
Preparam as
armas, pedras, facas, querosene e muito mais!
Quando ela
chegasse todos a enfrentariam, e resgatariam a paz...
A loucura
tomou conta do lugar...
Loucos que não conseguiam enxergar
Só queriam
matar, matar o que?
O mal que só
eles conseguiam ver...
E a mulher
surgiu, e bem de longe eles já tremiam...
Mas fingiam,
e para ela, eles só sorriam!
Quando houve
a aproximação, a dor foi da primeira pedrada...
Depois os
outros artefatos consumando a selvageria
O corpo se
contorcia e girava, estava sendo queimada!
Eles ficaram
parados olhando o quanto ela ardia...
Aos poucos,
morria!
Até que já
não mais se mexia...
Ultimo
suspiro, acabou a agonia!
Depois de
algumas horas a polícia chegou.
E junto dos
policiais veio alguém que a conhecia.
E este
alguém ao ver todo aquele horror, gritou:
—O que fizeram contigo querida? Que
covardia!
—Quem vai cuidar daquelas crianças
abandonadas?
—Você sempre bondosa deu á elas a sua
morada...
—Quem vai banhar a tua mãe que está
acamada?
—Só você tinha o coração bom e sempre
fazia...
—Quando te mataram destruíram a
alegria
—Você era o ombro amigo de toda nossa
vizinhança.
—Sempre nos ofertou palavras de
esperança.
—O que fizeram contigo foi uma
crueldade.
—E aqueles pequeninos que te esperam?
—Vão todos morrer de fome e saudade.
—Meu Deus, os imundos mataram a
bondade!
E o silêncio
naquele lugarejo foi cortante.
As mãos,
agora sujas, e nunca mais seriam como antes...
A cegueira
havia acabado e o céu ficou manchado.
Caíram na
realidade, eles, é que tinham a maldade!
A aparência
daquela mulher foi o motivo de tal horror.
Depois
descobriram que haviam matado o amor.
O remorso
desceu sobre cada criminoso.
E aquele
lugarejo passou a ser um lugar temeroso...
Todos diziam
que ali existiam pessoas assassinas.
Monstros que
adoravam praticar uma chacina.
Homens ruins
e mulheres maldosas...
Lugar infernal
que só praticava o mal!
A mulher foi
enterrada na cidade onde morava.
Debaixo da
chuva, parecia que o dia até chorava...
Neste mundo
algumas pessoas reparam no visual.
Apontam o
dedo e se não gostam até tratam mal.
Quantos,
hoje em dia, sofrem pelo olhar malvado?
Quem julga
pela aparência comete o maior pecado.
Como saber o
pensamento? Uma roupa não diz nada.
Como julgar
uma vida em só uma olhada?
Cuidado com
o que os outros falam...
Alguns
incitam o ódio, apenas o exalam...
Procure ser
justo, a todo custo!
E para ter
certeza do que uma pessoa é...
É preciso
muita convivência, se desligue da aparência.
Este é um
conto e mostrou que o ódio pode ser plantado.
Quando a
cegueira do preconceito ataca, o mal fica alado...
Cria asas
longas e vê situações que não existem.
É enxergar
sem ver, é se aprofundar no morrer do próprio ser...
Depois que
se praticou o mal não adianta se arrepender.
Ás vezes
aquele que parece feio e anormal tem o melhor astral.
E aquele que
aparenta ser maravilhoso...
Muito
engana, o espírito é horroroso!
Ás vezes,
foi o que eu falei...
Aparência
não diz nada...
Eu bem sei!
A vida
avança no mundo...
Jamais
matarão a diversidade.
De noite a
escuridão; de dia a claridade...
Nos jardins
da vida, diversas flores, e de todas as cores!
Olhares
coloridos olham este planeta...
Quem sabe o
amor faça com que o ódio derreta?
Só haverá
paz na terra quando morrer a arrogância...
Se achar
melhor do que o outro é pura ignorância!
No azul do
céu voam pássaros de todos os tamanhos.
É errado
repudiar aquilo que parece estranho...
É necessário
conhecer a fundo o que a vida apresenta...
Bom é ser o
que liberta e não o que acorrenta!
A liberdade
é universal; o respeito ao próximo é essencial!
Janete Sales Dany
Poema conto @ Registrado e imortalizado
na Biblioteca Nacional
O trabalho O vilarejo do preconceito de Janete Sales Dany está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Imagens utilizadas para fazer o gif
PIXABAY - DOMÍNIO PÚBLICO:
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