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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Vilarejo do Preconceito



Há muito tempo atrás...
Num vilarejo acontecia uma situação diferente...
As pessoas dali estavam imaginando um cenário estranho.
Uma senhora que aparecia do nada, uma visita permanente.
Uma hora estava de cabelo vermelho, noutra, castanho!
Passava lentamente, causando pânico naquela gente.
Uns diziam que ela era uma bruxa, outros, que era o tinhoso.
O apelido de assombração, quando surgia num dia chuvoso!
O vestido, às vezes, muito longo, varria as ruas daquele lugar...
Noutras vezes acontecia de aparecer quase nua...
Pele desenhada e aveludada a se mostrar.
Ela tinha um colorido vibrante, era feia, bonita e radiante...
Todos viam coisas infames, e a olhavam de modo inconstante.
Só por isto era chamada de louca, fêmea errante!
Cada dia ela representava uma ameaça, pavor na praça!
Nenhum deles dirigiu uma palavra sequer para aquele ser.
Diziam que era perigoso, sem ao menos a conhecer...


As conversas eram assim:
Cuidado, ela vem chegando e quer o nosso fim.
Não olhem para ela, já que trás no ser, o que é ruim.
É uma bruxa e pode levar nossas crianças.
Hoje ela veio penteada e vai nos enforcar com as tranças.
Não cheguem perto, pois se ela tocar em um de nós será mortal!
Ela chegou e caíra sobre nossa gente uma desgraça, ela é infernal.
Crianças corram, pois vem chegando uma bruxa maldosa...
Hoje, ela disfarça a maldade, se vestiu de cor de rosa!
Perigosa, esconde a ruindade, alma misteriosa...
Vamos rezar para que ela vá embora para sempre.
Esta mulher das trevas quer arruinar a gente.
Por que ela abusa de tanta sedução e tem todo este colorido?
Veja dentro dos olhos dela, há um mundo desconhecido...
Cuidado ela vai roubar o teu marido!


Depois de tanta lenda a mulher significava o pior que existia.
Quando ela chegava a criançada fugia,  a noite arrasava o dia.
Toda população do lugar se afugentava, se escondia...
Aquele temor foi crescendo e eles planejaram uma agressão.
Matariam aquele ser que causava tanta aflição.
Preparam as armas, pedras, facas, querosene e muito mais!
Quando ela chegasse todos a enfrentariam, e resgatariam a paz...
A loucura tomou conta do lugar...
 Loucos que não conseguiam enxergar
Só queriam matar, matar o que?
O mal que só eles conseguiam ver...
E a mulher surgiu, e bem de longe eles já tremiam...
Mas fingiam, e para ela, eles só sorriam!
Quando houve a aproximação, a dor foi da primeira pedrada...
Depois os outros artefatos consumando a selvageria
O corpo se contorcia e girava, estava sendo queimada!
Eles ficaram parados olhando o quanto ela ardia...
Aos poucos, morria!
Até que já não mais se mexia...
Ultimo suspiro, acabou a agonia!


Depois de algumas horas a polícia chegou.
E junto dos policiais veio alguém que a conhecia.
E este alguém ao ver todo aquele horror, gritou:
O que fizeram contigo querida? Que covardia!
Quem vai cuidar daquelas crianças abandonadas?
Você sempre bondosa deu á elas a sua morada...
Quem vai banhar a tua mãe que está acamada?
Só você tinha o coração bom e sempre fazia...
Quando te mataram destruíram a alegria
Você era o ombro amigo de toda nossa vizinhança.
Sempre nos ofertou palavras de esperança.
O que fizeram contigo foi uma crueldade.
E aqueles pequeninos que te esperam?
Vão todos morrer de fome e saudade.
Meu Deus, os imundos mataram a bondade!
E o silêncio naquele lugarejo foi cortante.
As mãos, agora sujas, e nunca mais seriam como antes...
A cegueira havia acabado e o céu ficou manchado.
Caíram na realidade, eles, é que tinham a maldade!
A aparência daquela mulher foi o motivo de tal horror.
Depois descobriram que haviam matado o amor.
O remorso desceu sobre cada criminoso.
E aquele lugarejo passou a ser um lugar temeroso...
Todos diziam que ali existiam pessoas assassinas.
Monstros que adoravam praticar uma chacina.
Homens ruins e mulheres maldosas...
Lugar infernal que só praticava o mal!
A mulher foi enterrada na cidade onde morava.
Debaixo da chuva, parecia que o dia até chorava...

  
Neste mundo algumas pessoas reparam no visual.
Apontam o dedo e se não gostam até tratam mal.
Quantos, hoje em dia, sofrem pelo olhar malvado?
Quem julga pela aparência comete o maior pecado.
Como saber o pensamento? Uma roupa não diz nada.
Como julgar uma vida em só uma olhada?
Cuidado com o que os outros falam...
Alguns incitam o ódio, apenas o exalam...
Procure ser justo, a todo custo!
E para ter certeza do que uma pessoa é...
É preciso muita convivência, se desligue da aparência.
Este é um conto e mostrou que o ódio pode ser plantado.
Quando a cegueira do preconceito ataca, o mal fica alado...
Cria asas longas e vê situações que não existem.
É enxergar sem ver, é se aprofundar no morrer do próprio ser...
Depois que se praticou o mal não adianta se arrepender.
Ás vezes aquele que parece feio e anormal tem o melhor astral.
E aquele que aparenta ser maravilhoso...
Muito engana, o espírito é horroroso!
Ás vezes, foi o que eu falei...
Aparência não diz nada...
Eu bem sei!

A vida avança no mundo...
Jamais matarão a diversidade.
De noite a escuridão; de dia a claridade...
Nos jardins da vida, diversas flores, e de todas as cores!
Olhares coloridos olham este planeta...
Quem sabe o amor faça com que o ódio derreta?
Só haverá paz na terra quando morrer a arrogância...
Se achar melhor do que o outro é pura ignorância!
No azul do céu voam pássaros de todos os tamanhos.
É errado repudiar aquilo que parece estranho...
É necessário conhecer a fundo o que a vida apresenta...
Bom é ser o que liberta e não o que acorrenta!
A liberdade é universal; o respeito ao próximo é essencial!

Janete Sales Dany
Poema conto @ Registrado e imortalizado
na Biblioteca Nacional
Licença Creative Commons
O trabalho O vilarejo do preconceito de Janete Sales Dany está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.




Imagens utilizadas para fazer o gif
PIXABAY - DOMÍNIO PÚBLICO:

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