Seguidores

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

ESTRADA VICIOSA


“Se a cólera que espuma, a dor que mora”
dentro de mim pudesse ser sentida
por outros, sei que mais nenhuma aurora
exibiria a alvura tão querida.

Seria escuridão que só piora,
abrindo em cada ser a atroz ferida,
que sempre desvirtua o meu agora,
que traz à tona a lágrima sentida...

Não tenho império, não possuo amor,
não mostro o riso, só cultuo a dor,
prossigo nesta estrada viciosa...

Faz muito tempo que fechei a porta
e choro sim, nenhuma vez me importa
“em parecer aos outros venturosa!"

Janete Sales Dany



Atividade FÓRUM DO SONETO
TRILHA DE SONETOS XCII -
"MAL SECRETO", DE RAIMUNDO CORREIA

Regra: compor Sonetos transcrevendo
no verso 1 e no verso 14 os versos
de RAIMUNDO CORREIA,
referentes ao SONETO
parnasiano "MAL SECRETO",
sendo livres o ritmo,
o esquema rimico
e o desenvolvimento do mote.


Raimundo Correia
Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O DISFARCE DO PALHAÇO


"Gargalha, ri, num riso de tormenta,"
melhor fingir que tem o que queria,
do que mostrar a falta de alegria
e a imensa solidão que lhe acorrenta.

Gargalha eternamente e, assim, aguenta
a ausência do prazer que anestesia
as dores dessa triste travessia,
sempre martirizante e tão cinzenta!

No picadeiro, esperam seu sorriso,
a arte de apresentar o paraíso,
mesmo sentindo as dores do fracasso!

No picadeiro, só se considera
a intensa permanência da quimera...
"Ri! Coração, tristíssimo palhaço."

Janete Sales Dany

Atividade
FÓRUM DO SONETO

TRILHA DE SONETOS XCI -
"ACROBATA DA DOR",
 DE CRUZ E SOUSA
Regra: compor Sonetos transcrevendo
 no verso 1 e no verso 14 os versos 
de CRUZ E SOUSA
 referentes ao SONETO parnasiano 
"ACROBATA DA DOR", 
sendo livres o ritmo, o esquema rimico 
e o desenvolvimento do mote.


Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa



terça-feira, 3 de janeiro de 2023

O RENASCER DA PRIMAVERA

"São duas flores unidas",
que jazem no vaso agora,
que imitam a triste aurora
que marcou as nossas vidas.

Tantas lágrimas vertidas...
e a saudade só piora,
insiste em não ir embora,
acrescenta mais feridas!

Quem dera te ver um dia,
e serenar a agonia,
alterar o que me espera!

Quem dera dormir contigo,
transformar o nosso abrigo
“numa eterna primavera”!

Janete Sales Dany

TRILHA DE SONETOS XC - 
"A DUAS FLORES", DE CASTRO ALVES
Atividade
FÓRUM DO SONETO
Regra: compor Sonetos 
transcrevendo no verso 1
e no verso 14 
os versos de Castro Alves
referentes ao poema parnasiano 
"DUAS FLORES",
sendo livres o ritmo, 
o esquema rimico
e o desenvolvimento do mote.
*******

A Duas Flores

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves ALVES, C.,
Espumas Flutuantes, 1870.